A crise global na indústria eletrônica decorrente da escassez de semicondutores no mercado tem sido bastante noticiada. Sobretudo por conta das OEM (Original Equipment Manufacturer, em português ‘fabricante do equipamento original’) automotivas.
Isso porque a indústria automobilística foi a mais afetada pela crise dos chips. Que teve origem em diversos eventos adversos na Ásia e se agravou com o prolongamento da pandemia.
Contudo, outros fatores contribuem para o problema. As fabricantes de semicondutores estão enfrentando um aumento da complexidade do design desses produtos. E também a falta de profissionais capacitados para atuar nesse mercado. Somados aos problemas relacionados à pandemia, é inevitável a interrupção dentro de uma cadea de suprimentos complexa, que conecta todos os envolvidos, mesmo em diferentes mercados.
Neste artigo, falamos sobre o futuro do mercado de semicondutores e quais alternativas já existem para atender a demanda global. Confira!
Mercado de semicondutores: que alternativas as empresas estão encontrando para driblar a escassez?
Diante da alta demanda por semicondutores, que vai de encontro à escassez do produto no mercado, as indústrias buscam novas soluções. Uma das alternativas de grandes empresas de tecnologia e de gigantes automotivas foi modificar o design dos chips internamente.
Desviando-se dos pedidos típicos, outra solução encontrada foi pedir mais chips do que o necessário. Desse modo, constroem um estoque e garantem algumas reservas. Porém, no curto prazo essa prática aumentou a lacuna entre oferta e demanda. Consequentemente, quem não pode garantir suas reservas, ficou ainda mais prejudicado.
Nesse sentido, as fabricantes de semicondutores podem considerar um alinhamento da demanda com a capacidade de produção. Isso poderia ser feito através de contratos onde as empresas compradoras aceitem uma certa quantidade ou tenham de pagar uma taxa caso recusem a oferta. Contudo, essa é uma tendência que pode gerar implicações para o mercado.
Mas como é possível perceber, tais saídas são meros paliativos. Ou seja, não resolvem o problema em definitivo e não atendem as necessidades de modo abrangente. Indústrias menores seguem prejudicadas e sem muitas alternativas, além de negociar prazos com os clientes. Isso sem contar o aumento dos custos, que precisam ser repassados.
Portanto, quais as alternativas podem ser consideradas de modo concreto? Vejamos a seguir:
Atuar de forma colaborativa
A formação de parcerias tende a fortalecer e expandir a base de clientes. Isso porque, cada vez mais, as indústrias exigem o desenvolvimento de soluções específicas. E mesmo que as fabricantes de semicondutores devam trabalhar para atender a demanda de pedidos, atuar de forma colaborativa para atender requisitos personalizados pode apontar caminhos para nichos industriais de crescimento elevado.
Manter-se ágil e responsivo frente às mudanças globais
Os fabricantes de semicondutores precisam identificar e reconhecer a transformação na cadeia de suprimentos. Essas mudanças ocorrem a partir da diversificação do comércio global. Sobretudo pelas tecnologias cada vez mais inovadoras.
Diante desse cenário, vários fabricantes já estão explorando a diversificação, pois assim podem contar com mais de um fornecedor.
Outro ponto a destacar é o fortalecimento das estratégias de preços, especialmente nos setores automotivo e industrial. Uma vez que a escassez de semicondutores pode se tornar o “novo normal”, as empresas seriam beneficiadas se planejassem cuidadosamente a alocação de estoque e as estratégias de preços mais justos.
Adotar novas tecnologias
Conforme aponta a Lei de Moore, a inovação deve ser contínua. E por isso, avanços adicionais através de novas arquiteturas de design precisam ser viabilizados. Entre as opções, está a combinação de matérias para fabricação de semicondutores, como carbeto de silício e nitreto de gálio. Além de ser uma saída para a produção, os semicondutores combinados apresentam desempenho superior aos fabricados com silício tradicional.
Como exemplo, está a Tesla, que conseguiu driblar a crise vendendo ainda mais carros elétricos. Isso é possível graças aos softwares, que permitem a troca de semicondutores comuns por outros “menos conhecidos”, conforme divulgado na imprensa.
Como o silício pode dar lugar a outros materiais na fabricação de semicondutores?
O silício é a matéria-prima básica da fabricação de semicondutores. Depois do oxigênio, é o elemento mais abundante encontrado na crosta terrestre. E quase sempre aparece composto com outros elementos.
O motivo pelos quais o silício é utilizado em componentes eletrônicos, se deve ao fato de que seus compostos possuem uma ampla variedade de propriedades úteis e podem se ligar firmemente a outros átomos, criando arranjos complexos.
Mas apesar de ser muito abundante, existe uma limitação para o uso do silício na fabricação dos semicondutores diante da demanda global. E com isso, novas opções estão sendo buscadas pela indústria.
A IBM foi quem deu o primeiro passo rumo à substituição do silício. Há alguns anos, a empresa iniciou um trabalho com nanotubos de carbono. Atualmente, outras fabricantes já seguem a mesma linha, buscando vencer as limitações, principalmente em decorrência da crise.
De acordo com as simulações já realizadas, um nanotubo de carbono pode ser até cinco vezes mais rápido que um de silício. E utilizando a mesma quantidade de energia.
A Intel é outro exemplo de empresa que busca uma saída para o uso do silício em seus produtos. Recentemente, a fabricante de processadores apontou o semicondutor lll-V como substituto mais provável para o silício na indústria tecnológica.
Brasileira está entre pesquisadores que descobriram componente alternativo ao silício
Pesquisadores da universidade de Utrecht, na Holanda, que tem uma brasileira entre eles, desenvolveram um estudo onde o telureto de mercúrio (derivado do telúrio e do mercúrio), pode ser mais eficiente que o grafeno para substituir o silício.
De acordo com a professora do instituto de física teórica Cristiane Morais Smith, a descoberta é considerada o “Santo Graal dos materiais”. Isso se deve ao fato de que o telureto de mercúrio reúne características de alta condutividade. Além de ser, ao mesmo tempo, isolante e condutor. Desse modo, o material descoberto pode ser revolucionário na computação quântica, aumentando ainda mais a potência das máquinas.
Assim, com as novas descobertas decorrentes de uma constante evolução tecnológica, a ideia de que o silício tende a ficar para trás se torna mais real. E mesmo que ele continue sendo uma das substâncias mais importantes para a tecnologia, e seu uso ainda seja feito em larga escala, é muito positivo que existam alternativas num mercado cada vez mais crescente.