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Crise na indústria eletrônica: a experiência das empresas do setor

Já é consenso que a pandemia de Covid-19 afetou diversos setores da economia, direta e indiretamente. E mesmo após dois anos, os reflexos ainda são sentidos, a exemplo da crise na indústria eletrônica.

No entanto, outros fatores contribuíram para o prolongamento dessa crise. Isso porque uma série de componentes eletrônicos importantes para a indústria tem sua produção concentrada em países asiáticos.

Além da pandemia, a falta de chuvas ocorrida em Taiwan durante o ano de 2020 também contribuiu para um desequilíbrio na oferta do produto. Junto a isso, uma das maiores fábricas de semicondutores do Japão sofreu um incêndio em 2021. Nesse incidente, 30% da produção global das peças foi afetada.

Aqui no Brasil, diversas empresas também foram afetadas. Conversamos com alguns empresários que relataram como a crise na indústria eletrônica impactou os negócios. Confira!

Como a crise na indústria eletrônica afeta empresas brasileiras?

A indústria brasileira de eletrônicos é totalmente dependente do mercado externo, pois precisa importar toda a demanda de semicondutores. Como consequência, a falta de produtos, a demora nos prazos e os custos elevados prejudicam a produção, trazendo uma série de problemas para os fabricantes.

Para Carlos Guimaraes, da Huez Componentes, os principais desafios enfretados com a crise na indústria eletroetrônica tem a ver justamente com essa dependência das importações. A demora nas transferências de pagamento para o exportador, a lentidão e o alto custo do processo aduaneiro são alguns deles.

Além disso, as surpresas com a constante variação nos custos do transporte também são um problema. Todo o processo de importação, além de moroso, tem se tornado caro. O que reflete no valor do produto vendido ao consumidor final.

“Atualmente estamos enfrentando bastante problema para aquisição de componentes e peças importadas. Na parte dos componentes, o principal problema é a falta de itens e o preço elevado. Além da variação de preços e prazos, que é bastante grande. Alguns itens chegam a ter prazo de entrega de 52 semanas. E o preço (em dólar) chega a ser sete vezes maior do que o praticado anteriormente. Em relação às peças, o que tem pesado muito é o custo do frete. Ainda está muito acima dos valores praticados antes da pandemia”, relata Paulo Micco, engenheiro do Grupo Secon. A empresa desenvolve, produz e comercializa equipamentos de automação, controle e instrumentação.

Diante das dificuldades, as empresas tentam driblar a crise na indústria eletrônica. É o caso da Logmaster, fabricante de nobreaks. A saída encontrada foi suspender o desenvolvimento de novos produtos. Assim, o trabalho da equipe de engenharia está focado em alterar os projetos, substituindo peças que podem ser adquiridas com mais facilidade e com custos mais acessíveis.

“Os prazos de entrega estão sendo mais longos, porém estamos fazendo de tudo para que todas essas dificuldades não atinjam nossos clientes. Procuramos ter um diálogo mais direto com nossos clientes, para juntos programar melhor nossas entregas”, explica o diretor da empresa, Reginaldo Silva.

No entanto, um ponto em comum que afeta os fabricantes é o custo da produção. Por conta da escassez dos componentes, o preço dos produtos se tornou mais elevado. afetando também a MPRESS.

“Nossa produção é por demanda, desta forma nossas compras seguem o mesmo critério. No ano passado, iniciamos a negociação com fornecedores internacionais, o que nos permitiria um menor impacto no aumentos de custos, que já estavam se tornando realidade. Em questão de 10 meses, um único fornecedor realizou quatro reajustes. Em 2022 esse cenário mudou, não só os custos aumentaram como os prazos de entrega também. Uma consequência dos períodos anteriores de lockdown e dos impostos recentemente na China. Mas o relacionamento que temos com nossos clientes nos ajudou muito na negociação. Ajustamos prazos e lotes para que todos tivessem o menor impacto possível e fossem atendidos. Porém, o duplo, às vezes triplo custo com um único componente já é realidade. Temos itens parados aguardando container para embarque na China. Por conta da necessidade, foi preciso comprar de fornecedores nacionais que possuíam estoque. Internamente, já iniciamos estudos para manter os estoques desses e de outros componentes, assim como de matérias-primas. Uma precaução para futuros impactos”, explica Júlio Aguiar, diretor da MPRESS.

Expectativas para o fim da crise

No ano passado, um levantamento da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) mostrou que 70% das empresas do setor sofreram com a crise. Na época, a expectativa era de que tudo se normalizasse a partir do segundo semestre de 2022.

Contudo, além da pandemia e dos incidentes que contribuíram para a crise na indústria eletrônica, a guerra na Ucrânia também é um fator preocupante. Diante desse cenário incerto, a atual expectativa do mercado é de que a situação só se normalize em 2023.

Isso porque, ainda que Europa e América do Norte tenham se dado conta de sua dependência dos países asiáticos, e possivelmente vão buscar investimentos para corrigir essa deficiência, os custos para a montagem de uma fábrica desse tipo de produto é elevadíssimo. Nesse sentido, o fluxo normal de produção pode demorar ainda mais tempo.